Gênero: Drama
Direção: Selton Mello
Ano: 2011
O cinema nacional é visto por boa parte da população como um aglomerado de produções apelativas e sem qualidade. Essa perspectiva é justificada pelo nosso histórico de produções com alto teor puramente pornográfico (pra não dizer sacanagem desenfreada) e filmes atuais totalmente vazios de talento em roteiro e atuações. Isso quer dizer que o cinema norte-americano é o paraíso? Claro que não, eles fazem desastres monumentais! Acontece que o volume de produções e investimentos lá é infinitamente maior, logo as chances de coisas boas também aumenta. Dá pra perceber isso quando se nota no começo de O Palhaço a quantidade absurda de patrocínios necessários pra que ele pudesse ser realizado aqui no Brasil. E nem vou entrar no cinema europeu, pois aí teriamos um outro texto totalmente diferente e demasiadamente grande.
E pra quê tudo isso? De modo simplificado, é apenas uma introdução pra dizer que, com frequência vagarosa, mas existente, o nosso país consegue render boas histórias, como em O Palhaço (2011), escrito, dirigido e atuado pelo já conhecido Selton Mello.
Na história encontramos Benjamim (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José), filho e pai, ambos palhaços que gerenciam um circo itinerante, composto por um trupe peculiar que conta com tudo que um espetáculo de verdade precisa: de anão à mágico. Lembra quando chegava na sua cidade um carro de som berrando sobre o "incrível circo real espanhol bla-bla-bla" e que, no final das contas, se resumia a uma lona desgastada, palhaços, truques suspeitos e sempre uma nova atração por noite? Pois bem, seria mais ou menos isso. E só pra constar, no meu caso era o "lendário" Circo de Mônica com sua entrada de 50 centavos.
O problema se dá quando Benjamim começa a questionar o sentido de suas escolhas e de seu papel no mundo. "Okay, eu sou um palhaço e divirto as pessoas, mas quem vai me fazer rir?". Junte um enredo singelo, peculiar e bonito com um elenco inspirado, boas referências a grandes nomes da comédia do passado com uma trilha sonora ímpar, que mescla diversos elementos da cultura circense com belas canções de outras décadas e terá um resultado admirável. Sou um verdadeiro entusiasta quando se trata de boas trilhas!
Em cerca de 1:30h somos apresentados a uma história leve, porém paralelamente intensa, comovente e reflexiva sobre qual papel devemos desempenhar nesse palco chamado mundo. Os mais saudosistas irão se deparar com antigas músicas que incluem Nelson Ned e nomes bem conhecidos como Moacyr Franco, Tonico Pereira e Jackson Antunes interpretando alguns personagens ao longo da trajetória da trupe. Os mais atentos também irão reconhecer outras grandes personalidades, porém prefiro não estragar a surpresa. Selton Mello conseguiu orquestrar uma obra dramática, divertida e esperançosa, compensou toda a expectativa depositada introduzindo na película um ventilador com um valor metafórico muito maior do que a sua própria utilidade. É uma história que merece ser vista e revista, sem ressalvas.
O gato bebe leite, o rato come queijo e você, o que faz?
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4 comentários:
Dificilmente eu gosto de um filme brasileiro, mas pelo que você escreveu me interessei. Esse trecho me chamou a atenção: "Okay, eu sou um palhaço e divirto as pessoas, mas quem vai me fazer rir?.
Vou assistir depois.
Esse preconceito com filmes nacionais acaba fazendo com que várias pessoas deixem de assistir filmes tão bacanas como este de Selton.
Uma hitória simples, bonita e que toca no coração.
E ai Rafa. Quer dizer que ciu O Palhaço? Fico feliz em saber que curtiu. Também achei genial. Um dos melhores filmes que vi recentemente. Grande abraço e vai desculpando o fato de não comentar sempre. =D
Caro Desconhecido/Desconhecida. Um abraço pra você tb, seja quem for, mas se possível se identifique, viu? Fiquei curioso agora, rsrs
O Palhaço realmente é uma das melhores produções que vi recentemente.
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