17 outra vez

O Zac Efron é um daqueles caras que parecem ter bebido água da fonte da juventude e que não envelhecem nunca, mas não de um jeito legal que nem o Keanu Reeves, mas de um jeito parecido com o Yudi do “Bom Dia & Cia”. O Zac Efron tem 25 anos e a mesma cara que tinha em High School Musical. 

[HAHAHAHAHA]

Por isso, eu quis assistir “17 outra vez”. Porque o Zac Efron sempre tem cara de 17, não como um Johnny Depp da vida interpretando Don Juan DeMarco, mas como um daqueles caras descolados do ensino médio, então ele parecia perfeito para esse filme. Só pareceria melhor se o nome do filme fosse “17 para sempre”. 

“17 Again” é uma comédia de 2009 e tem direção de Burr Steers (“A estranha família de Igby”). Poxa, o cara (Steers) atuou em “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction” – o que você tá fazendo com a sua carreira, homem?! 

Agora, imagine que você tem 37 anos, sua carreira vai de mal a pior, seu casamento é uma piada e você não tem um bom relacionamento com seus filhos. Quando está prestes a se divorciar, um faxineiro (?) resolve te ajudar, e te joga num redemoinho (!), o que faz você voltar a ter 17 anos. A merda é que quando você volta, você vira o Zac Efron de cabelinho perfeito.

[- Eu vou te jogar num redemoinho e você vai virar o Zac Efron!]

Bom, a história do cara é assim. Quando Mike (Matthew Perry – 37; Zac Efron – 17) tinha 17 anos, era o craque do time de basquete, e namorava a garota mais bonita do colégio, Scarlett (Leslie Mann – 37; Allison Miller – 17). No dia em que o olheiro foi assistir o jogo mais importante, que garantiria a faculdade e blá blá blá, Scarlett revela a Mike que está grávida, mas diz para ele seguir em frente e vai embora. Mike decide apoiá-la, e sai correndo da quadra atrás dela. Casam e geram Maggie (Michelle Trachtenberg) e Alex (Sterling Knight). Mas os dois personagens surpreendentes do filme são Ned (Thomas Lennon) e a Sra. Masterson (Melora Hardin) – contarei mais adiante. 

Antes de continuar, só queria fazer uma observação: eu nunca entendi a dificuldade de encontrar atores adolescentes para fazer papel de adolescentes. Isso é uma coisa que realmente me incomoda, sabe? Ver a pequena espiã (Michelle Trachtenberg, 27 anos) fazendo papel de uma garota boazinha e inocente do ensino médio, mas o resultado é uma psicopata que mente a idade. É, que nem “A Órfã”. 

[-Eu sei que você tem mais de 20, oh yeah!]

Faça o teste e descubra se você é perspicaz o suficiente para identificar roteiros clichês: 

A) O Mike se matricula na mesma escola que os filhos estudam, descobre que os dois são uns babacas, vira a piada do time de basquete, mas em compensação, passa a estudar feito um condenado, vai para a faculdade e passa o resto da vida sozinho, até que cai em outro redemoinho e pode escolher se ele quer continuar ou voltar atrás, então o filme acaba deixando esse mistério. 

B) O Mike se matricula na mesma escola que os filhos estudam, decide ajudá-los, é o cara popular, humilha o valentão que aprontava com seu filho, abre os olhos da filha quanto ao péssimo namorado que ela tem, a garota se apaixona pelo próprio pai, que fica dando em cima da mãe dela (que é a sua esposa, mas como ninguém sabe, tecnicamente é o amigo do filho querendo pegar a coroa), vira o craque do time de basquete, mas abandona a oportunidade de fazer faculdade novamente pela esposa, então o faxineiro aparece, o cara volta aos 37 e todo mundo fica feliz. 

C) O Mike descobre que o faxineiro na verdade é um cientista e que ele está sendo alvo de experiências fantásticas, então a sua forma muda o tempo todo: elfo, anão, orc, gigante, ET etc. Então, cansado de ficar se transformando, Mike decide pôr um fim naquilo tudo, mas o cientista lhe oferece muito dinheiro, ele aceita e fica rico, e aí passa o resto da vida se transformando em várias criaturas, juntamente com seus filhos e esposa. 

[Vamos pensar um pouco.]

Sim, é a opção B. Infelizmente, porque a “A” é muito mais poética e a “C” faria muito mais sentido. Mas tem outra coisa que eu não consigo entender: se o cara tem 37 anos, por que ele não age como um adulto ao invés de continuar sendo o típico adolescente popular? Já sei, eu mesma sei a resposta: porque ele é um babaca e acha que ser popular na escola é um bom objetivo de vida. Mesmo tendo 37 anos. Aliás, pensando bem, quando você é popular, fica mais fácil de ajudar os seus filhos inexperientes. Pelo menos nesses filmes americanos. 

Só que apenas o Alex consegue ser ajudado. Porque quando o Mike vai embora, o Alex vira o novo craque do time, então você supõe que ele vai pra faculdade. E que vai parar de apanhar dos valentões, porque essa é a lógica nos colégios de filmes americanos. Já a Maggie, continua a mesma desmiolada, então você supõe que ela vai namorar algum outro imbecil ao invés de se dedicar aos estudos. Bom, mas quem sabe ela não é uma adulta disfarçada fazendo um trabalho como espiã, não é mesmo? 

E como prometido, a parte sobre os personagens surpreendentes: Ned e Sra. Masterson. O Mike tem um irmão chamado Ned, que é um nerd rico. Um nerd rico do tipo que tem sabres de luz em casa, além de espadas e escudos. E que dorme fantasiado de elfo. O Ned é a única pessoa que sabe o que aconteceu com o Mike, então ele decide ajudá-lo, emprestando um dos seus carros e comprando algumas roupas, fazendo com que Mike se torne popular. 

[- Vou dar de cartão na sua cara, seu moleque!]

E o Ned se apaixona pela diretora da escola: a Sra. Masterson. A Sra. Masterson é linda e esnoba o Ned, até descobrir que ele é nerd e fala a língua dos elfos, então os dois passam a se comunicar nesse idioma nobre, mas quando percebe que esse romance não será discreto, ela desiste de seguir em frente. Porém Ned vai falar com ela novamente, e finge estar usando uma capa da invisibilidade. A Sra. Masterson não resiste, e os dois acabam se fantasiando de elfos juntos para sempre. Essa é a parte do filme que vale a pena, mas se você não gosta de comédia do tipo que não te faz rir ou de roteiros previsíveis, não assista.